terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ensaio.Hamlet





À Partir da obra de Shakespeare

Direção
Enrique Diaz

Elenco
Bel Garcia / César Augusto / Felipe Rocha / Fernando Eiras / Malu Galli / Marcelo Olinto

Substituições
Angela Rebello / Enrique Diaz / Emílio de Mello / Susana Ribeiro / Saulo Rodrigues

Diretor Assistente
Mariana Lima e Daniela Fortes

Cenografia
Marcos Chaves e César Augusto

Figurino
Marcelo Olinto

Iluminação
Maneco Quinderé

Trilha Sonora e Músicas Originais
Lucas Marcier, Rodrigo Marçal e Felipe Rocha

Direção de cena
Márcia Machado

Direção de movimento
Andréa Jabor

Preparação Corporal
Cristina Moura

Produção
CIa dos Atores / AR Produções Artísticas

Crítica - Jornal Le Monde






A imaginação, o sonho e a poesia de Ensaio.Hamlet


Não se trata de um palco à italiana. Os atores são rodeados pelo público, há uma busca do consensual. Todo o teatro fica insinuado em uma semi-penumbra. Os comediantes são iluminados por velas e candeeiros que carregam nas mãos, mas esses acessórios trocam de lugar, desaparecem, voltam, como se estivéssemos associados aos movimentos de consciência, que se transformam, flutuam, deixam de existir.

Este espetáculo de Enrique Diaz é um sonho, uma poesia de sonho. Ensaio.Hamlet ou Répétition. Hamlet, como anunciado. A ligação da peça, muito livre, dos atores e das passagens fragmentárias do texto de Hamlet falam por si mesmas, já que Shakespeare coloca na peça uma trupe de comediantes cuja intervenção vai relançar a ação: eles vão representar a morte do rei assassinado com o objetivo de montar uma armadilha ao seu espoliador.

Os atores de Enrique Diaz, eles também uma trupe de intérpretes, vão deslizar pelos intervalos destes dois espetáculos, o verdadeiro e o falso, ou os dois falsos, em uma farândola, dança popular provençal, uma coreografia de mímicas que são como símbolos da ligação ao pai, à mãe, às vissicitudes da urgência, à morte, à vida.

Ora os intépretes atuam como se eles realmente ensaiassem Hamlet, com a conivência do público, ora interpretam a trupe imaginada por Shakespeare que representam uma cena. O negócio é não se perder, e os comediantes brasileiros, dançarinos, acrobatas, mímicos, nos levam, conforme sua vontade, através de mil peregrinações. Eles são aéreos, imaginários, surreais, e quando interpretam, de fato, uma cena ou outra de Hamlet, são formidáveis em presença de espírito, disponibilidade, evidência.

Atores surreais talvez, mas solidamente ancorados em uma mise-en-scène em segundo grau, que inclui toda uma carga de ontologia, de psicologia, de análise de tendência bem lacaniana, isto de modo ininterrupto, todo um peso cultural, intelectual, que nosso público, não podendo seguir minuto a minuto, precisaria rever a peça repetidas vezes, especialmente porque ela não é encenada em francês.


Uma maravilha de espetáculo

Porém, por momentos, é o sentido de uma manifestação que se impõe, como quando Hamlet diz a sua mãe que está apertado em suas roupas, como um bebê em suas fraldas. É a “mãe e sua criança”, e Diaz inventa uma quantidade de coisas a mais que freqüentemente levam à dubiedade.

Seja como for, este Répétition.Hamlet, trata-se de duas horas de encantamento. É nos dado uma maravilha de entretenimento, de magia, cada detalhe enche nossa vista, os atores projetam fantasmagorias encantadoras, como se nós vivêssemos diversas reflexões de nossas mentes, a consciência do que vemos, fisicamente, e, ao mesmo tempo, os sobressaltos de nossas memórias, de nossos instintos.

Mais do que isto, há a música, discreta, mas cativante, de Lucas Marcier, a luz fascinante de Maneco Quinderè (“ É sempre o mesmo céu e não é nunca o mesmo céu”, diz Samuel Beckett). Os atores, que representam diversos papéis, são Bel Garcia, César Augusto, Felipe Rocha, Fernando Eiras, Marcelo Olinto e Susana Ribeiro, a coqueluche do Rio de Janeiro, e foram convidados a virem a Paris no Festival de outono.

Duas horas de um teatro muito bonito, inabitual, inesquecível.


Por: Michel Cournot

sábado, 26 de setembro de 2009